quinta-feira, janeiro 20, 2005

construções in(de)termináveis

voltando às passagens secretas, articulando com Historicismo
Falando de História e da noção extremamente enraizada no ocidente de que a História é avanço (se é avanço, é para a frente, logo o mais à frente é agora, hoje), devo dizer que é um assunto que me fascina e relativamente ao qual vivo numa recente constância de dúvidas e decerto muitas contradições que se desenvolvem em torno de uma aceitação, talvez preconceituosa (por não ter sido alvo de uma suficiente análise, a qual hoje tento fazer), de que de facto é assim, avançamos, mal ou bem, só dando passos atrás na medida em que possibilitam passos em frente, e de que, por pior que sejam os diagnósticos do presente, quer sejamos actores da mudança ou intermediários infelizes entre grandes épocas, o que é certo é que caminhamos num sentido e esse lugar futuro é necessariamente melhor, ainda que sempre inacabado. Não consigo deixar de pensar assim, confesso. Tenho uma fé, é verdade. Permito-me esta metafísica. Mas ela fica por aqui.
Acredito que o ser humano está a construir alguma coisa melhor e com sentido. Que coisa é e qual esse sentido, isso sim não me atrevo a configurar. Se o fizesse, estaria, sem dúvida, a supor a descoberta ou a revelação de uma transcendência, uma realidade que se daria (ela) ao Homem a partir de um “oculto” que hoje mais que nunca parece perder terreno na mesma medida que a nossa “nostalgia” dele cresce e evidencia essa ausência. Este oculto seria o “estranho (…) pretensioso”, aquele que parece surgir na cabeça dos eleitos, escolhidos por um Deus dito ou por dizer. Posições que tanto podem ser religiosas como seculares, o que as caracteriza é o facto de atribuírem um título ao telos, um nome, uma definição vinda dos lugares apenas sondáveis por alguns, onde se desenha um lugar que dizem perfeito. Mas o telos pode não ter nome, pode mesmo ser inominável, pode não ter sujeito, nem sequer ser; pode simplesmente construir-se no acto criador do meu desejo dele, poiesis que faz nascer, lentamente, na imanência mundana do mundo que não se quer mais que humano, a passagem secreta, não para o lugar oculto, mas para si mesma, onde, no ocultado, nasce das mãos do homem cada novo lugar, feito dos mesmos elementos que esses membros, e cuja novidade não nasce do absolutamente outro, mas, paradoxalmente, de uma mesmidade heterogénea cujo interior é constituído por uma infinidade de elementos singulares e de combinações infinitamente possíveis (daí a heterogeneidade), e o exterior (hipótese provisória, o exterior provavelmente não existe, o que não dilui uma certa mesmidade, antes pelo contrário) por um movimento de transformação imanente (dai a mesmidade, visto esse movimento ser de certo modo um corpo envolto em si mesmo, ainda que indefinido).
Portanto, o dinamismo humano, desejante de não sei quê, faz mover alguma coisa para algum lugar, que eu acredito diferente e melhor (o que quer que isso de melhor venha a ser!). Sem certezas, porque talvez nada se revele, tudo se transforme revelando-se; dependendo do querer, claro.
Tudo isto começa na crença? Sem dúvida.
O que não começa?...