quinta-feira, junho 09, 2005

Doxa

É da Filosofia duvidar e - por via desse cepticismo metodológico - fazer assentar uma tese sobre argumentos minimamente conhecedores da matéria em causa e honestamente seleccionados e conducentes ao defendido; mas é, antes de mais, do Homem, ou devia ser. Contudo, grandemente o não é. Num certo sentido fazemo-nos dominar por aquilo a que os gregos chamavam de doxa: a opinião não fundamentada em razões mas sim em crenças. Claro que estas não podem deixar de existir; todavia, talvez devessem subsistir apenas onde as ditas razões não chegassem e onde o silêncio tumultuoso governasse as intuições últimas. De resto, deve-se pensar, do fundo à superfície não podemos recusar a reflexão sob pena de vivermos numa poça pantanosa em vez de num mar navegável. Cansa, mas a isso somos obrigados. Porém, de novo, todos nos achamos senhores de uma opinião autorizada relativamente a quase tudo e se numa discussão de ideias alguém nos apresenta argumentos melhores que os nossos fingimos não saber que errámos e afincamos no nosso território, na nossa opinião, em vez de, no diálogo, darmos a nós mesmos a oportunidade de aprender e - quem sabe? - de ensinar. Assim, sair da doxa não é, necessariamente, entrar na peritagem, mas chega a ser impulsionar uma intersubjectividade construtora de um espaço colectivo de agigantamento do olhar.