domingo, dezembro 02, 2007
sexta-feira, outubro 27, 2006
Eu
Somos invariavelmente preocupados com a nossa imagem (que não é nossa). Prova: quando vemos uma fotografia onde no meio de um conjunto de pessoas aparecemos nós, é para o nosso rosto que olhamos, preocupados com a imagem que nos roubaram e não podemos modificar pela eternidade fora.
domingo, outubro 22, 2006
a chuva que virá
As ruas são neutras na expectativa da chuva que há-de cair como tudo o que de céu cai, de rompante e de acordo com as leis físicas, as únicas leis dignas, pois tendem a dispensar os homens.
sábado, outubro 14, 2006
Frio nos dedos
O mal não foi decretado, é sempre uma coisa nova, individual e intransmissível para quem a vive. Nisso, de certo escapa ao Deus universal. É o particular mais indivisível de todos.
sábado, setembro 30, 2006
terça-feira, setembro 12, 2006
Balão branco
A Razão é uma esfregona banhada em lixívia que limpa o chão epidérmico. Vista a alvura da pele, a lembrança é número que se subtrai à frieza do concluído que se vai enchendo de ar branco. Este, quando feito e cheio como um balão, expande...
segunda-feira, setembro 11, 2006
a pele e a memória
O erro é uma granada de estilhaços. As peles desprevenidas são as que mais sofrem com a explosão. As cicatrizes são uma película do tempo, ao alcance dos dedos e da memória.
sexta-feira, setembro 01, 2006
terça-feira, agosto 29, 2006
segunda-feira, agosto 28, 2006
saúde
O esquecimento é um sinal de saúde. Nietzsche. Quem não esquece envelhece. O problema da vida é saber o que deve ser esquecido.
sexta-feira, agosto 25, 2006
público e privado
Num hospital público os pacientes são pacientes, num hospital privado os pacientes são clientes.
sábado, agosto 12, 2006
Dias de Sol
O Sol não pensa, ilumina o aí visível por baixo dele. A sombra, sim, pensa, porque é esforço e movimento para a luz que nunca existiu.
quarta-feira, agosto 02, 2006
Chocalho
E todos os dias o mesmo esforço silencioso, por vezes prazenteiro, de chocalhar a cabeça à espera que dela saia uma palavra nova ou uma nova palavra.
segunda-feira, julho 31, 2006
Agulha
É no preciso momento em que sofro a sensação de que o pensamento não serve para nada que a sua ausência me fere como agulha no fundo do caos.
domingo, julho 30, 2006
quarta-feira, setembro 21, 2005
O que é um filósofo?
Se o entendermos como um indivíduo cujo pensamento invade a vida por inteiro e é movido por uma vontade ontológica de a transformar eticamente por sua própria via e por se querer causa de actos que levem a sua marca esclarecedora, então temos Sócrates (o do século V a.C., entenda-se). Se o perspectivarmos como um profissional de uma disciplina, que se desliga dela sempre que sai do trabalho e se recolhe em casa como um cidadão encaixado num qualquer sistema social conformista, exercendo, portanto, o pensamento como uma técnica normativa que procura uma eficácia disciplinar e não uma ética existencial, então temos Carrilho – a esquizofrenia do pensador: grande nos livros, pequeno em casa.
sábado, junho 18, 2005
Os extremos revelam algumas virtudes do meio
Não se pretende uma identificação com qualquer extremo político, porque nesses extremos enraíza-se a fixidez do fundamento que impõe ao mundo uma verdade que não é mais que a presentificação do visível, quando de facto o verosímil (o único possível – a verdade curvada pelo tempo) esconde-se no invisível desvelado no horizonte da relatividade do tempo e do ser que nele se vai fazendo. Politicamente, tanto na direita como na esquerda, existem extremos - as chamadas extrema-direita e extrema-esquerda. Refere-se esta realidade porque a consideração destes dois dogmas serve para distinguir a esquerda e a direita, e revela uma das razões pelas quais alguém se poder afirmar de esquerda e não de direita, apesar do reconhecimento de um cada vez maior datamento desta diferenciação. Assim, visionando e ouvindo na TV as declarações de um representante da organização de extrema-direita Frente Nacional, por razões de uma sua manifestação no Martim Moniz, facilmente se percebe porque é que a esquerda, mesmo levada ao extremo, é preferível à direita - o extremo desta é, ainda assim, mais estúpido, revelando tendências do ameno menos virtuosas.
quinta-feira, junho 09, 2005
Doxa
É da Filosofia duvidar e - por via desse cepticismo metodológico - fazer assentar uma tese sobre argumentos minimamente conhecedores da matéria em causa e honestamente seleccionados e conducentes ao defendido; mas é, antes de mais, do Homem, ou devia ser. Contudo, grandemente o não é. Num certo sentido fazemo-nos dominar por aquilo a que os gregos chamavam de doxa: a opinião não fundamentada em razões mas sim em crenças. Claro que estas não podem deixar de existir; todavia, talvez devessem subsistir apenas onde as ditas razões não chegassem e onde o silêncio tumultuoso governasse as intuições últimas. De resto, deve-se pensar, do fundo à superfície não podemos recusar a reflexão sob pena de vivermos numa poça pantanosa em vez de num mar navegável. Cansa, mas a isso somos obrigados. Porém, de novo, todos nos achamos senhores de uma opinião autorizada relativamente a quase tudo e se numa discussão de ideias alguém nos apresenta argumentos melhores que os nossos fingimos não saber que errámos e afincamos no nosso território, na nossa opinião, em vez de, no diálogo, darmos a nós mesmos a oportunidade de aprender e - quem sabe? - de ensinar. Assim, sair da doxa não é, necessariamente, entrar na peritagem, mas chega a ser impulsionar uma intersubjectividade construtora de um espaço colectivo de agigantamento do olhar.